Estado Islâmico criou mercado de meninas escravas sexuais, diz jornal
'New York Times' traz relatos de vítimas do comércio de prisioneiras.
Grupo terrorista reverencia e justifica prática com princípios religiosos.
O estupro sistemático de mulheres e meninas da minoria religiosa Yazidi se tornou uma instituição e uma rotina na organização terrorista Estado Islâmico (EI), e uma complexa infraestrutura foi criada para comercializar essas prisioneiras como escravas sexuais e justificar a prática com preceitos religiosos.
É o que mostra uma reportagem especial do jornal americano “New York Times”publicada nesta quinta-feira (13) com base no depoimento de 21 vítimas que conseguiram escapar do cativeiro, além de entrevistas com especialistas e trechos de comunicados divulgados pelo próprio EI.
Segundo a reportagem, desde que a escravidão foi justificada em um artigo divulgado por líderes do Estado Islâmico em outubro do ano passado, a comercialização de mulheres e crianças Yazidi se tornou estrutural e reverenciada como um dogma da organização, com uma rede de edifícios que servem de cativeiro, salas onde elas são inspecionadas por potenciais compradores e uma frota de ônibus específica para transportá-las.
O texto afirma ainda que foi criada uma burocracia para esse tipo de comércio e que as prisioneiras – chamadas de “sabayas”, ou escravas – são numeradas e registradas como mercadoria em contratos de venda validados por tribunais tocados pelo grupo. Algumas nem chegaram à puberdade.
Os relatos de meninas de 12 ou 15 anos descrevem os detalhes sobre a prática, incluindo o fato de seus raptores orarem antes e depois de as amordaçarem e estuprarem, além de explicarem a elas que não se tratava de um pecado por elas serem “infiéis” (não islâmicas).
Segundo o “New York Times”, a escravidão sexual se tornou uma ferramenta que ajuda a recrutar para o EI homens de sociedades islâmicas fortemente conservadoras, nas quais o sexo casual é tabu. “Líderes do EI têm enfatizado uma visão seletiva e estreita do Corão para não apenas justificar a violência mas também celebrá-la como benéfica e virtuosa espiritualmente”, afirma o texto, que cita relatórios de organizações como Human Rights Watch e Anistia Internacional que comprovam a natureza organizada e premeditada do mercado sexual.
Um total de 5.270 Yazidis foram raptadas no último ano e ao menos 3.144 ainda estão em cativeiro, disseram líderes comunitários à reportagem.
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