20 dezembro 2012

Morte da menina Araceli Cabrera Sanches eternizou o 18 de maio

18 de maio de 1973. A menina Araceli Cabrera Sanches, de apenas oito anos, sai de sua casa, no Bairro Fátima, em Serra (ES), para ir à escola e não volta mais. Era uma sexta-feira. Naquele dia, a filha do eletricista Gabriel Crespo e da boliviana radicada no país, Lola Sanches, foi espancada, torturada, drogada, violentada e morta. Araceli teve partes da barriga, dos seios e da vagina dilaceradas com mordidas em uma orgia regada a cocaína e LSD. Seu corpo foi queimado com ácido e permaneceu durante mais de três anos na gaveta do Instituto Médico Legal de Vitória, até que uma investigação que terminou com pelo menos 14 
Corpo da menina ficou mais de três anos na gaveta do Instituto Médico Legal (Divulgação/Caso Araceli)
Corpo da menina ficou mais de três anos na gaveta do Instituto Médico Legal
execuções e nenhum condenado fosse iniciada.


Não é por acaso que nesta sexta-feira - exatos 39 anos depois - acontece o Dia Nacional de Combate ao Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes. O 18 de maio foi escolhido pela Lei Federal 9970/00 em referência ao caso, símbolo na luta contra esta forma de violência. A história da menina nunca foi completamente esclarecida, mas a memória da barbárie capixaba segue viva entre aqueles que combatem os abusos.

Investigações e corrupção
As investigações e os crimes que envolvem o processo são contados com detalhes por José Louzeiro no livro "Aracelli, meu amor" (na certidão de nascimento o nome da menina aparece com um 'L', mas nos demais registros com dois, por isso a diferença no título da obra). Segundo conta o escritor, entre os primeiros executados estão o policial Homero Dias, que cuidava do caso, e o criminoso "Boca Negra", que teria testemunhado a morte do primeiro com o "fogo amigo". A trama vai além e envolve denúncias de corrupção contra a polícia e contra o Tribunal de Justiça capixaba - hoje o mesmo exibe em seu portal um "contador" celebrando o número de dias sem denúncias de abuso sexual infantil.

Atenção, imagem forte!

ATENÇÃO, A IMAGEM É FORTE. Laudo fotográfico da Polícia Civil mostra corpo da menina, encontrado seis dias após o abuso. Araceli foi queimada com ácido após ser assassinada. (Reprodução da internet)
ATENÇÃO, A IMAGEM É FORTE. Laudo fotográfico da Polícia Civil mostra corpo da menina, encontrado seis dias após o abuso. Araceli foi queimada com ácido após ser assassinada.

Os principais suspeitos pela morte de Araceli foram Dante de Brito Michelini (Dantinho) e Paulo Constanteen Helal, ambos de famílias ricas e apontados na época como jovens consumidores de drogas e autores de outras violências contra meninas em Vitória (ES). Marisley Fernandes Muniz, amante de Dantinho, chegou a revelar detalhes do crime durante uma CPI instaurada para apurar o caso. A menina teria ido levar um bilhete (com drogas escondidas) de sua mãe para os jovens, quando foi raptada. A partir daí teriam começado os abusos, torturas e violências, que terminaram com a morte da menina. O corpo da criança foi abandonado ao lado do Hospital Infantil Menino Jesus, no Centro da cidade.

Dante e Paulo chegaram a ser presos em agosto de 1977, mas foram soltos em outubro do mesmo ano. Em 1980 ele foram julgados e condenados, mas a sentença foi anulada. Em novo julgamento, realizado em 1991, os reús foram absolvidos. O crime prescreveu.

Participação da mãe

Em seu livro, Louzeiro aponta a mãe como a "causadora" do crime. Ela teria colocado a filha em risco ao usá-la para enviar o bilhete (supostamente com drogas) aos jovens. As informações são de que ela fugiu para a Bolívia quando as investigações avançaram. Entre os episódios que envolvem a trama, conta-se que após o pai reconhecer Araceli por uma marca de nascença, a mãe teria dito não se tratar do corpo da filha. Certo do reconhecimento, o pai teria levado o cachorro da jovem (batizado de 'Radar' por encontrá-la em todos os lugares) até o IML, onde o animal acertou a gaveta em que estava o corpo.

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