19 março 2012

'Eles não foram agressivos', diz brasileira sequestrada no Egito Sara Lima Silvério, de 18 anos, diz que foi bem tratada pelos beduínos. Ela e uma amiga foram liberadas sem ferimentos.



Thiago Reis
Do G1 SP

Uma das brasileiras sequestradas noEgito, Sara Lima Silvério, de 18 anos, disse na noite deste domingo (18) que foi bem tratada pelos beduínos, que a levaram para um vale no meio do deserto.
"Não me tocaram. Não molestaram nenhuma de nós. Eles não foram agressivos com a gente", disse, após chegar ao hotel escoltada por generais do Exército egípcio. Ela e a amiga Zélia Magalhães de Mello, de 45, foram libertadas sem ferimentos do cativeiro após negociações.
"A gente foi tirada do ônibus, colocada dentro de um carro. Levaram a gente para o meio do deserto, no Vale do Sinai. Lá eles colocaram um tapete no chão, a gente sentou e eles deram várias cobertas. Depois, serviram chá, serviram comida", contou ao G1, por telefone, do Egito.
Segundo ela, quando iam ao banheiro, os sequestradores não a acompanhavam, preservando a intimidade. "A gente orou por nove horas, desde o momento em que fomos levadas até o momento em que chegamos ao hotel."
Sara e Zélia fazem parte da Igreja Evangélica Avivamento da Fé, que tem sede em Osasco, na Grande São Paulo. O grupo de 42 pessoas realizou uma excursão ao país.
Os turistas brasileiros haviam saído do Cairo e tomado uma estrada rumo ao Monte Sinai. "De repente, dois carros ultrapassaram o ônibus e eles desceram atirando. Foram vários disparos, de metralhadora e de fuzil. Eles atiraram na porta do ônibus. Achei que estavam até atirando na gente já. Foi então que eles entraram no ônibus e levaram as duas para fora", afirmou o pastor Dejair Silvério, pai de Sara..
Amigos oram pelas brasileiras sequestradas no Egito (Foto: Eduardo Carvalho/G1)Amigos oram pelas brasileiras sequestradas no
Egito (Foto: Eduardo Carvalho/G1)
O ônibus foi interceptado por um grupo de beduínos que sequestrou, além das duas brasileiras, o segurança do ônibus, que é egípcio e estava armado, segundo fontes do Itamaraty.
Sara disse que fará a viagem ao país novamente "sem problemas". "Volto com certeza." Ela afirmou ainda que os debuínos "quiseram chamar a atenção do governo". "Foi algo político."
A jovem disse que o guia sequestrado junto ajudou na comunicação, traduzindo o que os beduínos perguntavam. "Eles sempre perguntavam se a gente estava com frio, fome e falando que tudo ia ficar bem", relatou. "A gente só achava que ia acontecer alguma coisa quando eles começavam a falar muito alto. Mas a gente não chorou, não gritou, manteve a calma", disse.
Sara definiu o reencontro com a família como "lindo". O pai, a mãe e a irmã aguardavam a chegada dela no hotel perto do Monte Sinai. "A gente começou a dançar. Todo mundo abraçou a gente. Foi uma experiência incrível, porque acrescentou à minha fé. Fiquei muito feliz de ver todo mundo."
A intenção do grupo é cruzar a fronteira com Israel nesta semana e voltar ao Brasil no dia 27. Sara, que fez um intensivo de inglês em Dallas, pretende cursar música. A segunda opção é ser tradutora intérprete. Ela disse que atualmente faz cursos de francês e japonês.
Fieis de igreja de brasileiras sequestradas no Egito oram pela segurança delas, em Osasco (Foto: Eduardo Carvalho/G1)Fiéis de igreja de brasileiras sequestradas no Egito oram pela segurança delas, em Osasco (Foto: Eduardo Carvalho/G1)
Terceiro caso
Vários casos parecidos, envolvendo estrangeiros, ocorreram na região em 2012.
Em fevereiro, beduínos sequestraram três turistas sul-coreanos, pouco depois de um crime similar contra duas americanas e um guia egípcio, com a exigência de libertação de companheiros detidos.
Os turistas e o guia foram libertados rapidamente e sem ferimentos, assim como 25 trabalhadores chineses que haviam sido sequestrados em janeiro e que ficaram cerca de 20 horas como reféns.
Beduínos foram presos por conta de envolvimento em atentados praticados na região entre 2004 e 2006, que mataram cerca de 130 pessoas.
Além de pedir a libertação dos companheiros, os beduínos também relatam descontentamento em relação à maneira como são tratados pelo governo provisório egpcio, no poder desde a queda do ditador Hosni Mubarak no ano passado.
Os beduínos pegaram em armas para ajudar a rebelião que derrubou Mubarak, mas consideram que não foram recompensados por isso pela junta militar egípcia.
Isso aumentou a tensão e a violência na região, com com ataques a delegacias de polícia e explosões frequentes contra oleodutos que levam gás ao vizinho Israel.
A pouco habitada região abriga a maioria dos luxuosos resorts egípcios, ao mesmo tempo que é o local de moradia de grande parte da pobre população beduína.

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