Frederico Bottrel - Estado de Minas
É com uma gargalhada irônica que Tulio Montenegro reage quando indagado se está complicado encontrar mão de obra para preencher as vagas de garçom: “É difícil, mas não é pouco difícil não; é muito mesmo”. Segundo o proprietário do Restaurante Chef Tulio Butikim, as bandejas estão abandonadas e nem mesmo pessoas sem qualquer qualificação aparecem para tentar o emprego. “As vagas estão ociosas há seis meses e a gente se desdobra para servir também. Preciso duplicar os funcionários para o Comida di Buteco, em abril, e não sei como vou fazer”, conta. O problema tem dimensões nacionais, segundo a Associação Brasileira dos Bares e Restaurantes (Abrasel): o setor emprega 6 milhões de pessoas e tem 400 mil vagas não preenchidas em todo o país.
Baixos índices de desemprego são boa notícia, mas ajudam a ampliar o desespero de quem precisa contratar garçons. A taxa de janeiro, de 5,5% da população economicamente ativa, não é tão baixa desde 2003, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) (leia mais na pág.12).
Segundo o presidente da regional mineira da Abrasel, Fernando Júnior, postos de trabalho que tradicionalmente exigem pouca qualificação, como é o caso dos garçons, são, de fato, preteridos diante de uma situação de pleno emprego – em Belo Horizonte, a taxa de desemprego é de 4,5%.
“O que agrava o problema é que esses profissionais preferem, por exemplo, trabalhar na construção civil, que oferece condições melhores, logo de cara”, diz Fernando, para quem a migração de mão de obra entre esses dois setores é incontestável. De acordo com ele, para que o garçom consiga remuneração gorda, é preciso muito trabalho: “Parte considerável de um bom ordenado desses profissionais está na gorjeta. Os melhores garçons conseguem fazer um bom dinheiro”.
Os salários mais interessantes da construção civil são exatamente a questão, segundo Tulio Montenegro: “A mesma pessoa que trabalharia para mim como auxiliar de cozinha, para ganhar R$ 635, além de adicional noturno, vale-transporte, alimentação e uniforme, prefere trabalhar na construção civil para receber R$ 1,6 mil, com as mesmas vantagens e seguros médico e dentário”. O restaurante emprega hoje quatro garçons (sendo dois da própria família) e ele confessa que, quando reflete sobre o aumento da demanda esperado na Copa do Mundo, a palavra é uma só: “desespero”.
O setor de alimentação fora do lar corresponde a 50% da mão de obra do setor de turismo e 40% do Produto Interno Bruto (PIB) do turismo, segundo a Abrasel. A expansão do segmento, alavancada pelos turistas que virão assistir aos jogos, é preocupante diante do apagão de garçons. Segundo Hans Aichinger, coordenador de hotelaria e gastronomia do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac), responsável pelos cursos de capacitação para diversos profissionais, incluindo garçons, o risco é de que haja inversão desse fluxo de mão de obra, justamente no momento mais crítico.
“Hoje todos querem ir para a construção, que está aquecida pelos trabalhos nos empreendimentos que vão preparar a estrutura para a Copa. Quando o evento esportivo ocorrer, aquele mercado estará desaquecido e essa mão de obra voltará para o setor de serviços. Mas estará desqualificada porque enquanto deveria ter se preparado, preferiu ganhar dinheiro no canteiro de obras”, diz Aichinger.
A procura por cursos de qualificação que capacitem garçons também reflete o desprezo dos candidatos com a profissão. Segundo Aichinger, a queda na procura é perceptível: “Abrimos turmas trimestrais, com capacidades para até 20 alunos, e muitas vezes temos apenas três, dois, às vezes um aluno em sala de aula”. O Senac mantém um programa gratuito para alunos com renda inferior a dois salários mínimos e ensino fundamental completo. Mas nem para ele há interessados. “Essa turma é a que fica mais vazia, porque contempla justamente a mão de obra de classe que prefere trabalhar com carga horária menor e ganhar mais na construção civil”, conta Aichinger.
Mas não são apenas os andaimes o principal eldorado para os que deixam bandejas de bares e restaurantes de lado. “É difícil a concorrência com o setor de eventos, que oferece pagamentos atrativos para que o pessoal trabalhe como freelancer”, diz José Márcio Ferreira, proprietário do Bar Barbazul, no Bairro Funcionários, em BH. Segundo ele, a média de remuneração por evento é de R$ 300: “Diante disso, quem vai querer ganhar R$ 1 mil para trabalho fixo?” Por causa desse cenário, ele se esforça para manter funcionários como Luísa Assis, que ajuda a servir, apesar de ser cozinheira.
A procura por cursos de qualificação que capacitem garçons também reflete o desprezo dos candidatos com a profissão. Segundo Aichinger, a queda na procura é perceptível: “Abrimos turmas trimestrais, com capacidades para até 20 alunos, e muitas vezes temos apenas três, dois, às vezes um aluno em sala de aula”. O Senac mantém um programa gratuito para alunos com renda inferior a dois salários mínimos e ensino fundamental completo. Mas nem para ele há interessados. “Essa turma é a que fica mais vazia, porque contempla justamente a mão de obra de classe que prefere trabalhar com carga horária menor e ganhar mais na construção civil”, conta Aichinger.
Mas não são apenas os andaimes o principal eldorado para os que deixam bandejas de bares e restaurantes de lado. “É difícil a concorrência com o setor de eventos, que oferece pagamentos atrativos para que o pessoal trabalhe como freelancer”, diz José Márcio Ferreira, proprietário do Bar Barbazul, no Bairro Funcionários, em BH. Segundo ele, a média de remuneração por evento é de R$ 300: “Diante disso, quem vai querer ganhar R$ 1 mil para trabalho fixo?” Por causa desse cenário, ele se esforça para manter funcionários como Luísa Assis, que ajuda a servir, apesar de ser cozinheira.
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