15 maio 2015

Vídeo de treino com socos na cara revolta mundo da luta; veja a cena

Vídeo de treino com socos na cara revolta mundo da luta; veja a cena

Maurício Dehò
Do UOL, em São Paulo
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Um vídeo que circula no Facebook e já bateu a barreira de 1 milhão de visualizações gerou barulho e muitas críticas no mundo das lutas. Nas imagens de uma academia no bairro Parque Bristol, na cidade de São Paulo, um técnico de muay thai aparece dando socos no rosto de alunos que, em fila, recebem os golpes sem se defender.
Dando origem a mais de 17 mil compartilhamentos, o vídeo recebeu uma enxurrada de críticas, por conta da violência do método usado, supostamente, para calejar o queixo dos lutadores. Nas imagens, Fernando Nogueira, técnico da academia Inside/Top Thai, é quem atinge os alunos, um a um.
São diversos socos no rosto, de forte intensidade, inclusive sobre garotas. Uma das vítimas dos golpes é praticamente nocauteado, e precisa se abaixar para recuperar as forças.
Fernando, em entrevista ao UOL Esporte, defendeu seu método. Ainda que os alunos tenham aceitado passar pela sessão de socos, professores de boxe e muay thai condenaram as imagens – e explicaram o por quê.
O campeão peso leve do UFC, Rafael dos Anjos, chamou o método de criminoso.
"Na minha opinião, é um absurdo. Isso queima a nossa classe toda, um trabalho de anos que fazemos para acabar com a discriminação com o esporte, e um vídeo desses é um retrocesso", afirmou Emerson Falcão, campeão do evento de kickboxing WGP, e especialista em muay thai que dá treinos para na academia de José Aldo. "Fiquei espantado em ver esse vídeo, inclusive com nome de gente que está no mercado há anos. Ali está tudo errado, vai contra a integridade física, moral... Isso não existe. Isso é violência"
Reprodução
Ivan de Oliveira, treinador de boxe e MMA e filho do medalhista olímpico Servilio de Oliveira, repudiou a ação. "Jamais faria como treinador. Tudo bem, ele não foi com arma em punho obrigando as pessoas, (ele) pode alegar que a galera sabe o método de treinamento, que todo mundo viu o primeiro tomando soco e ficou na filinha tomando soco. Mas fico indignado. Se eu fosse buscar minha mulher ou minha filha na academia e visse esse tipo de, digamos, calejamento do queixo, processaria a academia".
Em entrevista ao UOL Esporte, Fernando Nogueira afirmou que este tipo de treinamento é feito normalmente com lutadores que estão próximos de suas lutas.
"Aquele tipo de treino não é inovador, é feito em partes da nossa equipe, mas não é feito frequentemente. É para os lutadores que estão a caminho de entrar em competição, com cerca de um mês para lutar. Eles sabem que está dentro dos padrões de treino e tiveram a possibilidade de fazer ou não. Mais de 60% não fez. Mas os 40% que quiseram fazer, fizeram. Jamais tive problema com alunos lesionados, ou coisa desse tipo. Foi um treino de nível alto, mas para quem está de fora pode assustar", afirmou Fernando.
Segundo ele, a cena foi gravada há cerca de dois meses e não deveria ter sido exposta. Ele defende que, como professor, sabe os limites em que pode trabalhar.
"Sei do limite dos meus alunos, aquilo é feito com cuidado. No vídeo, percebi que as pessoas estão dando muita ênfase em uma pessoa que está falando, como se estivesse narrando. Eu nem percebi na hora, estava focado em não machucar ninguém. Ali, todos estavam de protetor bucal, e eu evitei golpes na região do nariz e do queixo, que sei que causam lesões. Pode parecer que são socos extremamente fortes, mas é por isso que é um professor que fez. De fora, pode chocar, infelizmente", completou ele.
Além dos treinos de alto nível, para competição, Fernando também dá aulas também para um projeto social em Bragança Paulista, com cerca de uma centena de participantes.

Mestre do técnico também condena

Nos banners que se vê atrás dos lutadores no vídeo, vê-se o nome de Munil Adriano, lutador e técnico de muay thai e MMA. Ele confirmou que a academia comandada por Fernando Nogueira é coligado à sua marca, a Inside. Munil também condenou as imagens.
"Aquele professor que está fazendo o vídeo é coligado à nossa marca, um grau preto formado por mim. Mas, não concordo com esse tipo de treino, que não representa o tipo de treino que realizamos na Inside. Ele se excedeu, fez um treino que não concordo", afirmou Munil Adriano.
"Isso não é feito nem com profissionais, não é habitual dos treinos. Foi uma infelicidade, que não concordo, mas o Fernando está tomando até calmantes, está mal por conta dessa situação", acrescentou ele.
Munil destacou que há anos trabalha com Fernando, e que, apesar do ocorrido, nunca teve problemas com o profissional. "Quem vê não sabe que ali é um projeto social, em que ele dá aulas para mais de 100 pessoas. Gente que é tirada da rua para treinar. Ele dá aula duas ou três vezes por semana para o pessoal de uma comunidade. Eu abomino o vídeo e aquele treino, mas ele é de uma honestidade ímpar."

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