15 maio 2015

Nazista dinamarquês que fez experiências com prisioneiros gays nunca foi julgado

Nazista dinamarquês que fez experiências com prisioneiros gays nunca foi julgado
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Do UOL, em São Paulo
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  • Reprodução/Never Again Ever
    O médico nazista dinamarquês Carl Vaernet, que conduziu experimentos para 'curar' gays
    O médico nazista dinamarquês Carl Vaernet, que conduziu experimentos para 'curar' gays
Nesta terça-feira (5), comemora-se o 70º aniversário da libertação da Dinamarca do domínio nazista por tropas britânicas. Os dinamarqueses se orgulham de sua resistência antinazista e seu heroísmo para salvar a vida de quase todos os seus cidadãos judeus. Mas o país também teve um pequeno segredo que permaneceu escondido por muitas décadas.
De acordo com o jornal britânico 'Guardian', o nazista dinamarquês Carl Vaernet, diferentemente da maioria dos outros médicos nazistas, nunca foi levado a julgamento em Nuremberg (Alemanha). Em vez disso, com conivência dinamarquesa e britânica, ele foi capaz de fugir para a Argentina, onde viveu livremente e continuou sua investigação de métodos para a erradicação da homossexualidade.
Vaernet era um médico de Copenhague que, percebendo as oportunidades oferecidas pelas políticas homofóbicas do Terceiro Reich, se juntou ao partido nazista e se alistou na SS para prosseguir sua pesquisa para "curar" gays.
Esta pesquisa foi realizada com a autorização pessoal de Heinrich Himmler (comandante militar da SS e um dos principais líderes do Partido Nazista). O chefe da Gestapo --polícia secreta nazista-- exigiu o "extermínio da existência anormal do homossexual".

Exposição

A campanha para expor Vaernet teve início em 1998, quando a população escreveu ao então primeiro-ministro dinamarquês, Poul Rasmussen, para pedir uma investigação sobre as atividades de guerra de Vaernet. A cobertura da mídia provocou um clamor público na Dinamarca, onde a maioria das pessoas não tinha conhecimento dos crimes de Vaernet e as medidas tomadas para protegê-lo das acusações.
Rasmussen passou o assunto para o Ministério da Justiça, que o repassou para o Arquivo Nacional da Dinamarca. Recusando-se a abrir um inquérito sobre os crimes de Vaernet e sua fuga da acusação, o Ministério da Justiça aconselhou a condução da investigação criminal. Mas os arquivos de Vaernet seriam sigilosos e fechados até 2025.
Confrontado com o aumento da pressão do público, da mídia e de parlamentares, o governo dinamarquês finalmente cedeu. O acesso foi dado aos então arquivos secretos. Eles revelaram a prática médica nazista de Vaernet, sua proteção por parte do Estado dinamarquês no pós-guerra e a inação por parte de aliados procuradores de crimes de guerra.

Pesquisas

Vaernet se tornou membro do partido nazista dinamarquês a partir do final de 1930. Como médico, ele se especializou em pesquisa hormonal, incluindo tratamentos para a "cura" da homossexualidade.
Depois da Dinamarca ser ocupada pelos nazistas, alguns pacientes visitaram a clínica do Vaernet por causa de suas simpatias pró-Hitler. Isso o levou a se aproximar dos nazistas, que eram bem conhecidos por seu ódio contra os homossexuais e sua tentativa de "eliminar o mundo pervertido do homossexual". Vaernet conheceu o médico nazista chefe, Ernst Grawitz, que propôs a ele pesquisar o tratamento da homossexualidade em nome da SS.
Isso resultou no dinamarquês operando prisioneiros homossexuais no campo de concentração de Buchenwald, inserindo glândulas hormonais artificiais em suas virilhas. Dois destes homens morreram de infecções causadas pelas condições insalubres.
Quando a Dinamarca foi libertada em 5 de maio de 1945, Vaernet foi preso e detido em Alsgade Skole --um acampamento para prisioneiros de guerra em Copenhague que era comandado conjuntamente pelos militares britânicos e da polícia dinamarquesa. O chefe do acampamento, o major britânico Ronald F. Hemingway, declarou à época que "sem dúvida Vaernet será condenado como criminoso de guerra".
Apesar disto, Vaernet parece ter convencido as autoridades britânicas e dinamarquesas de que seus tratamentos hormonais para transformar homens gays em heterossexuais foram importantes pesquisas científicas.

Fuga

Em novembro de 1945, em resposta à afirmação de Vaernet que ele estava sofrendo de uma doença cardíaca grave, Hemingway autorizou a sua transferência para um hospital de Copenhague. Na verdade, os registros médicos mostram que os testes cardíacos do Vaernet eram normais e que ele não recebeu tratamento durante sua permanência no hospital.
Em agosto de 1946, um colega médico de Vaernet informou ao Ministério Público dinamarquês que sua saúde se deteriorava e era necessário um tratamento urgente com vitamina E que só estava disponível na Suécia. Surpreendentemente, Vaernet recebeu uma autorização para ir para a Suécia e ganhou até mesmo um salário do Estado para se sustentar.
Cartas escritas por Vaernet neste período não mencionam sua saúde em declínio. Em vez disso, afirmam "tudo está pronto na Argentina" e "o dinheiro está pronto na Suécia".
A polícia dinamarquesa foi informada em 1947 que Vaernet tinha se estabelecido em Buenos Aires. Ele estava morando lá com seu próprio nome e tinha retomado sua pesquisa hormonal com financiamento do Ministério da Saúde argentino. Apesar dos apelos para sua acusação, o governo dinamarquês decidiu contra o processo de extradição.
De acordo com o 'Guardian', Vaernet permaneceu na Argentina até morrer em 1965, vivendo com o pleno conhecimento das autoridades dinamarquesas e aliadas. Eles não fizeram nenhuma tentativa de processá-lo por crimes de guerra, possivelmente porque eles consideravam sua pesquisa para "curar" a homossexualidade como legítima.

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