04 novembro 2013

Evangélico, Léo Rocha encontrou na religião a força para superar a frustração com o futebol.


Um pênalti, uma cavadinha errada e a eliminação na Copa do Brasil. O roteiro mais recente desse filme traz Alexandre Pato como vilão na queda do Corinthians diante do Grêmio, há duas semanas. Mas outros já passaram por esse papel num enredo que nem sempre reserva um final feliz nos gramados. Um ano e cinco meses após enfrentar a mesma situação pelo Treze, da Paraíba, derrotado nas penalidade por 3 a 2 para o Botafogo (veja a cobrança derradeira no vídeo ao lado), Léo Rocha pendurou as chuteiras precocemente, aos 28 anos. Apontado como culpado na época e dispensado pelo clube ainda no vestiário do Engenhão, o ex-meia se viu vítima do que chama de "injustiças do futebol" e admitiu que o episódio contribuiu para a sua aposentadoria.

- Influenciou um pouco. Não era conhecido aqui, e aconteceu aquilo. Atrapalhou um pouco para conseguir time na época. Mas já vinha falando em parar de jogar. Vejo muita injustiça no futebol. No Treze, não fui o único a perder, houve outros dois jogadores, mas assumi a responsabilidade. Tenho 28 anos, dava para jogar até uns 35. Mas é difícil ser reconhecido no Brasil. Fiquei por causa da cavadinha, não pelo meu futebol. Tive propostas para voltar de Macaé, Goytacaz e Friburguense, mas senti vontade de parar há uns três meses. Pendurei a chuteira mesmo. Agora quero ficar só com a minha família - afirmou o agora aposentado jogador, convicto de que jamais se arrependeu de sua cobrança defendida por Jefferson.
ex-jogador Léo Rocha (Foto: Arquivo Pessoal)Ex-jogador Léo Rocha em pelada com amigos
(Foto: Arquivo Pessoal)
- Não me arrependi e nem me arrependo. Era a minha forma de bater. Se vai no meio, é gol, mas foi muito devagarzinho e do lado dele.

Foi o último pênalti da carreira de Léo Rocha, que após sair do Treze teve rápidas passagens por ASA, Olaria e Inter Baku (Azerbaijão). Segundo ele, alguns treinadores chegaram a vetá-lo de ir para a marca da cal. Mas o ex-meia garante que não bateu novamente por não ter tido pênalti enquanto esteve em campo desde então. Agora, a cavadinha só aparece no futebol entre amigos, mesmo assim com moderação.

- Toda pelada que vou jogar, é só me verem que falam: "Olha, vai ter pênalti aí para você bater de cavadinha". O pessoal faz a farra. Agora tenho que bater no canto, porque já sabem. Mas quando o goleiro menos esperar, vou bater de novo de cavadinha - brincou.
Toda pelada que vou jogar, é só me verem que falam: "Olha, vai ter pênalti aí para você bater de cavadinha". 
Léo Rocha
Evangélico, Léo Rocha encontrou na religião a força para superar a frustração com o futebol. Hoje ele vive com o investimento de um táxi no Rio de Janeiro e com o dinheiro da venda de queijo e de campeonatos amadores em Valão do Barro, distrito de São Sebastião do Alto, interior do estado fluminense, onde mora com a esposa Patrícia e a filha Isabella, de três anos.

- Esquecer aquele pênalti, não vai ter como, mas já vejo como um momento ruim que passou, como aprendizado de vida. Já levo até como brincadeira. Hoje trabalho para Deus, ajudo na igreja, vendo meu queijinho, pessoal dá um dinheirinho para jogar o campeonato... Aqui o custo de vida é barato. Consegui investir o pouco que ganhei, e é o que me dá a renda suficiente para viver. Tenho uma casa na cidade e um sítio. Aqui estou com a família e com os amigos. Não tem dinheiro que pague isso.
ex-jogador Léo Rocha (Foto: Arquivo Pessoal)Léo Rocha, agora aposentado, quer cuidar mais da família (Foto: Arquivo Pessoal)

CONSELHOS A PATO

Desde que viu sua cavadinha parar nas mãos de Dida, Alexandre Pato virou alvo de críticas e protestos da torcida do Corinthians. De lá para cá, o atacante entrou apenas no segundo tempo das partidas contra Santos e Vitória e não fez gols. De longe, Léo Rocha se viu na pele do corintiano ao assistir na televisão uma comparação com a própria cavadinha, um ano antes. O fato de um jogador famoso e da Seleção também passar por este tipo de situação serviu de alívio ao ex-meia, que pediu paciência ao antigo companheiro de profissão para conseguir dar a volta por cima.

- O futebol é bom por causa disso: todo mundo passa pelas mesmas emoções, seja de time grande ou pequeno. Isso me acalmou um pouco mais. Para mim, o mais difícil foi o desânimo e a tristeza, porque caiu tudo nas minhas costas. Deus me ajudou a superar, e o Pato vai superar também. A pressão do Corinthians é bem mais forte, imagino que esteja muito grande para ele. Mas precisa ter calma, paciência, não tem que ficar nervoso, perder a cabeça com ninguém. O próximo jogo em que ele puder jogar bem, fazer gol, a torcida esquece, porque vive de momento. A torcida não teria que me respeitar muito, mas para o Pato é outra coisa, é um jogador consagrado, merece respeito. Ele não quis menosprezar ninguém, foi a forma que bateu. Se a bola tivesse entrado, a torcida estaria idolatrando o Pato. O futebol tem esses momentos, e para ele é mais fácil passar por cima disso, porque está em atividade. Para mim, que não vou jogar mais, fica difícil fazer os torcedores esquecerem - lamentou.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigado