Cortina de silêncio
Abafado pelo medo e a vergonha, caso de abuso sexual de meninos de Caratinga que sonham com o sucesso no futebol tem um treinador preso e envolve o nome de Agnaldo Timóteo
Meninos treinam após prisão de Maguila |
Detido preventivamente desde que a Operação Contra-Ataque, da Polícia Civil, desarticulou esquema de pedofilia na região, indiciando seis pessoas, Maguila, de 49 anos, casado e pai de dois filhos, se valia da proximidade com os jogadores, oferecendo-lhes dinheiro e materiais esportivos antes de disponibilizá-los para uma rede de clientes.
Em cinco pastas pardas sobre a mesa do delegado regional Gilberto Simão Melo, o resultado do inquérito, com cerca de 1 mil páginas, contém fotos, interceptações telefônicas, depoimentos de vítimas e familiares e uma peça que surpreendeu os próprios investigadores: o suposto envolvimento do cantor Agnaldo Timóteo, vereador em São Paulo (PP), amigo de Maguila, citado pelo treinador e por duas crianças durante a investigação. Interrogado em 26 de janeiro, o artista, nascido na cidade, ratificou a amizade de longa data com o treinador, mas negou qualquer participação em atos de pedofilia. Há 15 dias, o Ministério Público fez requisição à Polícia Civil para apurar exclusivamente a participação de Timóteo.
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Agnaldo teve o nome citado por menores no processo |
Os meninos que treinavam com Maguila em diversos campos da periferia temem não ter mais oportunidade no futebol e desconversam quando questionados sobre o ex-treinador, que os levava para as peneiradas em clubes do Rio. “Para a gente, foi um choque. Muitos meninos que vinham aqui para treinar, depois que ele foi preso, desistiram”, conta um garoto, que evitou se identificar.
O silêncio e o medo de não ter o sonho concretizado são os principais impedimentos para que as denúncias sejam feitas. Na semana passada, o país deu importante passo contra esse crime. A Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania da Câmara dos Deputados aprovou por unanimidade a Lei Joanna Maranhão, que prevê mais tempo para as vítimas denunciarem seus agressores. “Hoje carrego a bandeira da luta. É possível viver além da triste experiência de um abuso sexual”, escreveu em seu blog a nadadora pernambucana, finalista olímpica dos 400m medley em Atenas’2004, que revelou ter sido abusada aos 9 anos por um ex-treinador.
A história dos meninos de Caratinga se repete Brasil afora, mas são abafadas pela conveniência, pelo medo e a vergonha. A pedofilia é uma mancha que, mesmo acobertada, macula o esporte.
Esperamos um resultado desta demanda.
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