03 julho 2013

Sobe para 16 o número de mortos após discurso de presidente egípcio

03/07/2013 00h08 - Atualizado em 03/07/2013 00h08

Sobe para 16 o número de mortos após discurso de presidente egípcio

Presidente disse que fica após Forças Armadas dar ultimato.
Exército disse que está pronto para 'sacrificar o sangue' em prol do povo.

Do G1, em São Paulo
presidente egípcio durante pronunciamento na TV estatal, nesta terça-feira (2) (Foto: AP)presidente egípcio durante pronunciamento na TV
estatal, nesta terça-feira (2) (Foto: AP)
Confrontos entre apoiadores do presidente doEgito, o islamita Mohamed Morsi, e forças de segurança deixaram 16 mortos e 200 feridos entre terça (2) e quarta-feira (3). A informação foi divulgada pelas agências Reuters e a AFP, citando a TV local e o Ministério da Saúde.
Os confrontos se acirraram após um pronunciamento do presidente reiterando sua legitimidade - informou a agência de notícias Reuters.
O Exército do Egito declarou que está pronto para 'sacrificar o sangue' pelo Egito e seu povo 'para defendê-los contra qualquer terrorista'. A declaração foi publicada na página do Conselho Supremo das Forças Armadas (SCAF) na rede social Facebook, segundo a agência de notícias Reuters, três horas após o presidente Mohamed Morsi aparecer  na TV estatal reafirmando sua legitimidade.
Segundo a Reuters, milhares de muçulmanos se reuniram na praça em frente à Universidade do Egito para pedir o fim do ultimato dado pelas forças armadas do país para que Morsi deixe o poder. Nos últimos dias, protestos levaram milhões de pessoas às ruas contra o presidente, eleito após a revolução que derrubou o ex-ditador Hosni Mubarak em 2011.
Após o discurso de Morsi, um porta-voz do grupo opositor Frente da Salvação Nacional disse que a fala do presidente é vista como uma "declaraçao de guerra civil", já que ele ignorou as demandas da oposição que pedia sua renúncia.
Morsi fez um pronunciamento na TV estatal alegando que foi o primeiro presidente eleito democraticamente do país e que as eleições que o elegeram foram livres e representativas. "Não deixem eles roubarem a revolução de vocês", disse ele em um claro recado aos seus apoiadores.
Mais cedo, Morsi havia pedido que as forças armadas retirem o "ultimato", dado na véspera, para que ele divida o poder com a oposição, e disse que não vai receber ordens. Em seu discurso, ele disse que está tentando fazer com que o Exército volte a realizar suas tarefas normais e que seu primeiro ano de governo foi difícil, pois enfrentou desafios de reminiscências corruptas do "antigo regime". A "legitimidade" é "a única garantia contra o derramamento de sangue", acrescentou.
"O presidente Mohamed Morsi garante sua fidelidade à legitimidade constitucional e rejeita qualquer tentativa de desviar dela, e pede às forças armadas que retirem seu alerta, e se recusa a receber ordens internamente ou externamente", disse o Twitter oficial da presidência.
Uma fonte militar disse à agência de notícias Reuters que as forças armadas iriam responder.
Sete pessoas morreram nesta terça em confrontos entre partidários e opositores de Morsi no Cairo, segundo fontes médicas. Os choque ocorreram no distrito de Giza e também deixaram dezenas de feridos, alguns em estado grave, em meio à crise política que paralisa o país e que levou multidões às ruas das principais cidades. Tumultos também eclodiram em outros bairros da periferia do Cairo e na província de Beheira.
egito (Foto: AFP)Manifestantes gritam contra o presidente Morsi (Foto: AFP)

O presidente Morsi, islamita primeiro líder eleito livremente no Egito após a queda do ditador Hosni Mubarak, tem sido alvo de protestos, com dezenas de milhares de pessoas pressionando por sua saída.
Na segunda-feira, o exército ter dado um prazo de 48 horas para que o Morsi e a oposição liberal cheguassem a um consenso político.
Os militares negaram que tenham a intenção de dar um golpe de Estado.
A oposição egípcia anunciou a designação de Mohammed El Baradei, ex-diretor da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), como seu representante, visando a uma transição política.
O ultimato foi elogiado pela oposição, que acusa o presidente de querer instaurar um regime autoritário em favor da Irmandade Muçulmana, movimento islamita ao qual pertence.
Já os partidários do chefe de Estado insistem na legitimidade do primeiro presidente eleito democraticamente no país.
O clima era de tensão desde o início do dia. O manifestante Mostafa Gharib manifestou à France Presse o seu temor de que os islamitas "lutem até o fim antes de cair".
Para Mona Elghazawy, a batalha agora é contra os islâmicos.
Um grande esquema de segurança da polícia foi montado no Cairo, enquanto helicópteros do Exército sobrevoavam a cidade.
Um dos líderes da Irmandade Muçulmana chegou a pedir aos egípcios que estejam dispostos a sacrificar suas vidas e que evitem um golpe de Estado.
"Buscar o martírio para evitar este golpe é o que podemos oferecer aos mártires anteriores da Revolução", afirmou Mohamed al-Beltagui, em referência aos quase 800 mortos durante a rebelião de 2011, que levou à queda de Mubarak.
Dezenas de milhares de partidários do presidente se reuniram no bairro de Nasr City e em frente à Universidade do Cairo, na outra margem do Nilo.
"A posição do Exército é preocupante e perturbadora. Se eles tomarem o país, vamos fazer uma revolução islâmica", advertiu Mohamed Abdel Salem, um manifestante pró-Morsi.
"Acorde Sissi, Mursi é o meu presidente", cantava a multidão ao ministro da Defesa.
Alia Youssef, engenheira de 24 anos, disse estar "pronta para morrer em defesa da legitimidade (do presidente) e para dizer 'não' a um golpe militar".
Em um comunicado, a Presidência afirmou que o "Egito não permitirá um recuo, sejam quais forem as circunstâncias".
Esta resposta obrigou o Exército a desmentir qualquer plano de golpe de Estado e a esclarecer que o ultimato, lido por seu chefe, o general Abdel Fatah al-Sissi, pretendia "levar todos os setores políticos a encontrar uma saída rápida para a crise atual".

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