28 maio 2015

Jornal conta como foi a prisão de membros da Fifa. Nem algemas foram usadas

Jornal conta como foi a prisão de membros da Fifa. Nem algemas foram usadas

Do UOL, em São Paulo
 Ouvir texto
 
0:00
 Imprimir Comunicar erro

Prisões na Fifa - 5 vídeos

Dois repórteres do jornal americano "The New York Times", que estão na Suíça para acompanhar o Congresso da Fifa, presenciaram o momento em que sete integrantes da entidade, incluindo o ex-presidente da CBF José Maria Marin, foram presos no hotel Baur au Lac, em Zurique.

A ação foi levada a cabo pelas autoridades suíças sem grande alarde e sem invasão de quartos. Os oficiais, inclusive, esperaram os dirigentes da Fifa se vestirem, uma vez que as prisões foram realizadas logo no início da manhã, entre 6h e 8h locais.

Palco da operação, o Baur au Lac é um hotel de luxo, com mais de 171 anos e localizado no centro da cidade suíça. Segunda consta em seu site oficial, foi em uma de suas salas que deu-se a criação do Prêmio Nobel.

"Quando o relógio suíço marcou 6 horas, mais de uma dúzia de oficiais de justiça à paisana entraram sem alarde por uma porta giratória localizada na frente do hotel. Eles se dirigiram ao balcão da recepção, em que eles apresentaram documentos do governo e pediram o número dos quartos de algumas das figuras do mais alto escalão do futebol, que estavam no hotel para o encontro anual da Fifa, o órgão que regula o futebol no mundo", relata o jornal.
"De repente, o venerável Baur au Lac, local preferido de músicos, artistas, realeza e como o hotel diz, o lugar onde nasceu o Prêmio Nobel, transformou-se em algo semelhante a uma cena de crime. O concierge foi instruído a ligar para o quarto de um executivo e uma das mais significantes ações na história do esporte estava em andamento.
'Senhor', disse o concierge em inglês. 'Estou ligando para informar que você precisará ir para a sua porta e abri-la para nós, ou teremos que chutá-la", prossegue o relato.
"O hotel, que dá vistas para o Lago Zurique, proporcionou um cenário inigualável para a apreensão de seis (na verdade, foram sete) executivos presos por acusações de corrupção e agora vão encarar extradição para os Estados Unidos. A operação levou menos de duas horas e foi extremamente pacífica, sem algemas, sem armas levantadas. Ela também envolveu o incomum uso de um lençol.

Ações como esta nos Estados Unidos são tipicamente lideradas por membros armados da SWAT usando coletes à prova de balas e capacetes, mas a Suíça faz uma aproximação mais leve. Em vez de invadirem o quarto dos executivos e tirando-os a força de pijamas, os oficias esperaram os homens virem à porta e deram uma chance de se vestirem e pegarem suas malas", diz outro trecho da reportagem.

"As autoridades saíram com os executivos, um a um, por diversas saídas, incluindo uma porta lateral, a garagem do hotel e, em um caso, a entrada principal".
Ampliar

Conheça os envolvidos no caso de corrupção que abala a Fifa15 fotos

8 / 15
DETIDO: Jack Warner (72, Trinidad e Tobago) se entregou às autoridades em Trinidad e Tobago. Ele era presidente da Concacaf, mas deixou o cargo por conta de caso de corrupção em 2011. É ex-vice-presidente da Fifa e membro do comitê executivo Shirley Bahadur-2.jun.2011/AP

O relato dos repórteres detalha com riqueza como foi a prisão de Eduardo Li, presidente da federação de futebol da Costa Rica.

"Um executivo, Eduardo Li, presidente da federação de futebol da Costa Rica, estava no quarto andar, seu quarto perto da escadaria central em formato de espiral. Dois oficiais bateram em sua porta. Assim que o sr. Li apareceu, as autoridades não tentaram segurá-lo, e permitiram que ele pegasse seus pertences pessoais e então o escoltaram para o elevador. A mala escolhida estava adornada com logos da Fifa.

Depois de direcionar o Sr.Li pelos corredores do hotel, os oficiais o levaram por uma porta lateral que dava em uma rua estreita. Membros do estafe do hotel utilizando ternos estavam ali esperando-o, segurando lençóis para evitar olhares de pedestres curiosos ou membros da imprensa. Ele foi colocado em um carro que estava à espera – não sinalizado como sendo da polícia. O carro passou por um farol vermelho e se foi", contaram os jornalistas.

O artigo do New York Times também conta que um executivo da Fifa – que não tinha seu nome na lista dos procurados – apareceu no lobby vestindo calças, uma camisa e chinelos brancos oferecidos pelo hotel. Se informou sobre a situação e voltou para o quarto.

"Depois que todas as prisões estavam concluídas, um homem de terno chegou à recepção. Ele perguntou se alguém sabia o paradeiro de um dos executivos da Fifa.
'A esposa dele não sabe onde ele está', disse o recepcionista".


Às 9h locais, com a operação totalmente concluída, diversos veículos de imprensa chegaram e seguranças isolaram o local.

'É o fim de um império', diz jornalista que denunciou corrupção na Fifa

'É o fim de um império', diz jornalista que denunciou corrupção na Fifa

Fábio Aleixo
Do UOL, em São Paulo
 Ouvir texto
 
0:00
 Imprimir Comunicar erro

Prisões na Fifa - 5 vídeos

Autor de vários livros sobre a corrupção na Fifa e em outras organizações esportivas, além de colaborador do FBI nas investigações que levaram à prisão de sete membros da Fifa nesta quarta-feira, o jornalista Andrew Jennings está eufórico com o desdobramento do caso. Em entrevista ao UOL Esporte, ele foi direto:

"Penso que a coisa importante que fica de hoje (ontem) é o fim da Fifa como conhecemos.  (João) Havelange levou o crime organizado à Fifa e ele perdurou desde 1974 até agora. É o fim de um império. Todos os impérios caem. Foi assim com o britânico, com o francês. Até os portugueses tiveram de sair do Brasil. O império da Fifa terminou hoje (ontem)".
FOLHAPRESS
O jornalista Andrew Jennings, que denunciou esquema de corrupção na Fifa

Satisfeito com o que aconteceu na Suíça, Jennings tem a certeza de que escândalos ainda maiores virão à tona ao longo das próximas semanas, meses e anos, e que as prisões em Zurique são apenas a ponta do iceberg. Ele acredita que os nomes de Ricardo Teixeira e João Havelange aparecerão em breve nas investigações.

"Apenas espere. É uma longa e abrangente investigação. Eles vão chegar ao nome do Teixeira. Espere. Há muito mais coisa vindo. Isso não termina hoje. Vão pegar o Teixeira. Mas se não o pegarem, os brasileiros deveriam prendê-lo por todos os crimes que ele cometeu contra o futebol", afirmou.

Para Jennings, as investigações envolvendo pagamento de propinas referentes à Copa do Mundo de de 2014 deve ser muito mais um problema interno do Brasil, uma vez que o país não teve concorrência para receber o evento.

"Não tinha competição. A investigação deve ser feita no Brasil. Está tudo cercado de corrupção", disse o autor e jornalista, que perdeu a conta de quantos telefonemas recebeu e entrevistas concedeu ao longo de toda a quarta-feira.

Joseph Blatter, presidente da Fifa desde 1998 e favorito absoluto para a eleição prevista para esta sexta-feira, não escapou da língua feroz de Jennings. Após as prisões, o cartola divulgou um comunicado dizendo apoiar as investigações e que tem como objetivo deixar a entidade livre de comportamentos que manchem a sua imagem.

"Penso que Sepp Blatter mente desde que o dia nasceu. Ele é o chefe da corrupção por mais de 15 anos. Ele trabalhou em prol de Teixeira, ajudando Teixeira. Não faz sentido soltar este comunicado".

"A eleição de Sepp Blatter (nesta sexta-feira) não faz sentido. Quem se importa com isso?", completou Jennings.

O jornalista disse ainda que este caso se arrastará por anos, até que todos os investigados parem atrás das grades.

"Vai levar anos. Vai levar tempo para apurarem as coisas na Suíça, depois irão para os Estados Unidos. Muitas evidências virão à tona nos tribunais, durante o julgamento. Depois passarão um longo tempo na prisão", completou. 

Abertura de CPI do Futebol é aprovada no Senado

Abertura de CPI do Futebol é aprovada no Senado

Do UOL, em São Paulo
 Ouvir texto
 
0:00
 Imprimir Comunicar erro
Ampliar

Conheça os envolvidos no caso de corrupção que abala a Fifa15 fotos

1 / 15
Combinação de imagens de arquivo mostra funcionários da Fifa (da esquerda para a direita, e começando pela linha superior) Rafael Esquivel, Nicolas Leoz, Jeffrey Webb, Jack Warner, Eduardo Li, Eugenio Figueredo e José Maria Marin. Os sete homens estão entre as várias autoridades do futebol detidos em uma operação surpresa deflagrada em Zurique por autoridades suíças. Os cartolas são investigados pela justiça americana em um suposto esquema de corrupção. Conheça-os Leia mais AFP
Os senadores aprovaram nesta quinta-feira a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar o escândalo que resultou na detenção de sete dirigentes da Fifa, entre eles o ex-presidente da CBF José Maria Marin, suspeitos de corrupção, lavagem de dinheiro e extorsão, em esquemas comerciais envolvendo competições como a Copa América, Libertadores e Copa do Brasil. 
A CPI será publicada nesta sexta-feira no Diário do Senado e só não será instalada se 26 senadores retirarem suas assinaturas do requerimento até o fim da noite desta quinta, pouco provável no cenário atual.
A proposta de abertura da comissão investigatória é de autoria do senador Romário (PSB-RJ). Ele fez a proposta logo após ganhar repercussão a prisão dos dirigentes em Zurique na manhã da última quarta-feira (27).
A investigação que culminou na detenção dos dirigentes em Zurique está sendo feita pela Justiça nos Estados Unidos. Já a CPI no Senado pretende avançar em valores referentes à Copa do Mundo de 2014, assunto que não está sendo apreciado pelas autoridades norte-americanas. 
Em nota oficial do Senado, foi informado que a comissão contará com sete membros titulares e igual número de suplentes e terá 180 dias para investigar possíveis irregularidades em contratos feitos para a realização de partidas da seleção brasileira de futebol, de campeonatos organizados pela CBF, assim como para a realização da Copa das Confederações em 2013 e da Copa do Mundo de futebol de 2014.
A instalação dependerá da indicação dos integrantes pelos partidos, o que leva em conta o cálculo de proporcionalidade das bancadas na composição do Senado. O limite de despesas da comissão será de R$ 100 mil.
Durante sessão no plenário do Senado nesta quinta-feira (28), Romário falou sobre a CPI e disse esperar que os responsáveis sejam presos.
"Particularmente espero que Blatter seja preso antes de assumir um novo mandato. O Marin está preso e este é o momento de fazermos uma verdadeira devassa na CBF, a Casa Bandida do Futebol", afirmou.
"Recentemente, fomos surpreendidos com notícias da venda da Seleção Brasileira de Futebol masculino. Jogador que entra em campo por valor de marketing. Escalação feita por empresários. Tudo registrado em contrato. Por tudo isso, tenho tentado emplacar uma CPI para investigar esses criminosos.  É uma quadrilha camuflada pelas cores da nossa bandeira e festejada ao som do hino nacional", completou Romário, fazendo referência ao contrato da CBF com as empresas International Sports Events (ISE) e Pitch International, que prevê redução do valor pago caso a seleção brasileira não entre em campo com seus principais jogadores.
Marin dividiu propina de R$ 346 milhões
A investigação realizada pela Procuradoria de Nova York descobriu que o ex-presidente da CBF José Maria Marin seria um dos cinco beneficiários de uma propina de US$ 110 milhões (R$ 346 milhões, na cotação desta quarta-feira, 27) pagos pela empresa uruguaia Datisa, criada pela Traffic e por outras duas agências de marketing para negociações de direitos de transmissão da Copa América.
Marin e os outros acusados receberiam o dinheiro por terem feito com que a Conmebol (Confederação Sul-Americana de Futebol) e a Concacaf (Confederação de Américas do Norte e Central) cedessem à Datisa os direitos mundiais de transmissão das edições da Copa América dos anos de 2015, 2019 e 2023, além da edição especial do campeonato em 2016, evento que será realizado nos Estados Unidos e reunirá seleções de todo o continente americano.
De acordo com os procuradores norte-americanos, o esquema foi fechado em janeiro de 2014, quando Marin era o presidente da CBF (Confederação Brasileira de Futebol) e membro do comitê executivo da Fifa. Já o representante da CBF na Conmebol, à época, era Marco Polo del Nero, atual presidente da CBF, que não é citado nas investigações.